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Alagoinhas nos 30 anos do Balé Folclórico da Bahia: única companhia profissional de dança folclórica do país sobe ao palco da praça J.J. Seabra


23 de dezembro de 2018, 17:00

Pés descalços no palco da praça pública. Ritmados pelos atabaques e conduzidos por vozes que entoavam, na língua africana, saudações aos deuses do axé, os 22 bailarinos que se apresentaram, neste sábado (22), em Alagoinhas, trouxeram consigo a magia das tradições afro-brasileiras, a religiosidade de matriz africana e a força da identidade cultural.

Quem os chamou foi o público do interior baiano, a 120 km de Salvador, que teve a oportunidade de ver, de perto, o espetáculo “Herança Sagrada”, apresentado para mais de 5 milhões de pessoas de 30 países diferentes.

Completando 3 décadas de existência, a única companhia profissional de dança folclórica do Brasil chegou contando a história da criação do universo por Obatalá, “pai de todos os homens”, e os movimentos que reverberou, em cena, transitam entre a linguagem cênica, a excelência técnica e os mistérios do universo ancestral regido pelos orixás.

“Eu queria que a secretaria mostrasse que a cultura a gente faz valorizando aquilo que é nosso, reconhecendo as nossas raízes”, disse professora Iraci Gama, vice-prefeita do município e secretária de Cultura, Esporte e Turismo.
A companhia veio embalada por referências do samba de roda, da capoeira e de cultos afro-baianos que, juntos, e acompanhados de cânticos tradicionais, transformavam em cores, arte, dança, performance e beleza a atividade pesqueira, a luta, a fé, a resistência e as manifestações populares.

Do fundo do palco, 3 cantores e 4 músicos faziam o som e traziam a centralidade do espaço para onde surgiam a “puxada de rede”, anunciando Yemanjá, a rainha do mar, as tempestades de Yansã, senhora dos ventos e trovões, a vaidade de Oxum, as batalhas de Ogum e os poderes de Omolu.

Compassos de batidas sincronizadas dos pés descalços ditavam o ritmo dos quadros que se desenhavam e se desfaziam ao tempo do piscar de olhos atentos da plateia encantada em Alagoinhas.

“Quando a gente está no Brasil, a resposta é muito mais rápida, o entendimento é muito mais fácil. Por mais que a dança seja um gênero da arte que a gente chama de linguagem universal, fica muito mais próxima do povo brasileiro, especificamente do povo baiano, essa linguagem que a gente fala em cena, porque fala da cultura da Bahia, do nosso dia a dia, da cultura popular, do nosso folclore. É uma troca entre o público e o artista”, enfatizou Vavá Botelho, fundador e diretor geral da companhia.

O dançarino e coreógrafo do Balé Folclórico da Bahia voltou à cidade depois de um período de mais de 40 anos, e chegou acompanhado de uma grande turma para nutrir de energias os festejos natalinos. “Quando eu vim pra cá pela 1ª vez, eu tinha 18 anos. Vou fazer 60 agora. Na época, vim dar uma oficina de dança. Fiquei uma semana dando essa oficina, montei uma coreografia, um espetáculo, que foi apresentado aqui. Desta vez, cheguei e me surpreendi com a cidade, que está linda, super organizada, tudo iluminado, tudo bonito. Enquanto companhia, já estivemos aqui acredito que no começo do Balé, há 28 anos, mais ou menos, mas não com um espetáculo grande. Era espetáculo compacto, de meia hora, somente, em um evento daqui. Este espetáculo é levado e apresentado nos maiores palcos do mundo, então é uma oportunidade ímpar que a cidade está tendo de conhecer o Balé Folclórico como ele é hoje”, ressaltou Botelho.

Quem esteve na praça do Coreto não descolou os olhos do palco. Com uma apresentação enérgica, pulsante, de fôlego, história e axé, o Balé Folclórico da Bahia encerrou o espetáculo aos olhares admirados do público alagoinhense.

“A primeira sensação que eu tive é de que é maravilhoso se ver representado em um palco. Nós, que somos pessoas do axé, pessoas negras, muitas vezes não temos essa oportunidade. E hoje eu me emocionei várias vezes, porque a gente teve a chance de ver nossa religião retratada de uma forma tão respeitosa, tão linda, e a nossa cultura sendo mostrada para pessoas que não conhecem os fundamentos do axé. A minha principal emoção foi essa, de me ver um pouco também ali em cima. Foi lindo demais!”, comento Aline Najara Gonçalves, que assistiu ao espetáculo do início ao fim, no centro da cidade.

Sheila Santos também saiu do local emocionada. “Estou sem palavras. Uma apresentação desse nível. Fico maravilhada em poder prestigiar um espetáculo como esse, com essa força ancestral. Me senti completamente envolvida. Foi um dos melhores espetáculos que eu já vi em toda a minha vida. É importante para popularizar a arte que é nossa de raiz, e que pouca gente conhece dentro do nosso estado”, pontuou.

A troca não foi unilateral. Além da apresentação no palco, na noite deste sábado (22), o Balé Folclórico da Bahia deixou, em sua rápida passagem por Alagoinhas, um potencial multiplicador. E a história que o público viu ser contada no dia 22 de dezembro começou um pouco antes, quando artistas da companhia ministraram, na cidade, oficinas de dança e percussão.

A iniciativa faz parte da proposta da companhia, que também realiza um trabalho social pelos espaços que percorre com a arte. Na cidade, as oficinas, conduzidas pela coreógrafa Nildinha Fonseca e pelo diretor musical Zé Ricardo, aconteceram nos dias 20, 21 e 22 de dezembro, no Centro de Cultura, e o resultado dos três períodos de trabalho foi apresentado no palco, sábado, antes do espetáculo cujo movimento chamava a Corte de Oxalá.

“Quando o balé viaja, é um dos projetos que nós temos. Como prioridade dentro da nossa fundação, há justamente esse lado social, que a gente trabalha muito. Procuramos levar isso para o mundo inteiro, da troca, do intercâmbio com as comunidades locais, porque é isso o que enriquece, tanto a comunidade, quanto o próprio balé”, acrescentou Vavá Botelho.

Com mais de 700 bailarinos formados pela companhia durante os 30 anos de realizações e um documentário em andamento, dirigido pela atriz Glória Pires, o Balé Folclórico da Bahia se prepara agora para um novo espetáculo, que vem sendo trabalhado desde o início do ano no processo criativo dos artistas.

A apresentação em Alagoinhas foi uma realização da Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), com apoio do Fundo Municipal de Cultura e do Conselho de Cultura.

Confira as fotos do espetáculo:
SECET - Apresentação, BALE FOLCLÓRICO.

SECET - Bastidores: Balé Folclórico

BALÉ FOLCLÓRICO.

 

 

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